Por Coordenadoria de Comunicação Social | 24 de Outubro de 2019 às 15:10
No último dia do congresso, o presidente da ENS, Robert Bittar, mediou um dos painéis mais concorridos do evento, sobre mercado marginal, assunto polêmico que vem gerando intensas discussões no setor de seguros. Logo na abertura, Bittar destacou que o tema é sensível e ainda precisa passar por uma série de esclarecimentos. “O mercado marginal não é seguro, eles atuam à margem da lei”, alertou.Para mostrar o cenário atual dessa atividade, o sócio da Ernst & Young, Nuno Vieira, apresentou os resultados de um estudo sobre as Associações de Proteção Veicular (APV). O trabalho teve como objetivos entender como esse mercado atua, mensurar seu valor, mapear onde está concentrado e quantificar o número de APVs.
A pesquisa identificou que o mercado marginal arrecada, por ano, algo entre R$ 7 e R$ 9 bilhões, valor que corresponde a 27% de todo o mercado de Seguros de Automóveis do País. Foram catalogadas 700 APVs, mas esse número pode chegar a mil, já que muitas delas têm filiais. Em termos de prêmios, Vieira explicou que a média gira em torno de R$ 1.800,00 por veículo, e que a maioria das pessoas que contratam está concentrada na região Sudeste.
Atuação em novos segmentos
O estudo da Ernst & Young mostrou que o preço praticado não é mais competitivo do que o encontrado no mercado formal, pelo contrário, são prêmios equivalentes. “Há rateio de sinistros, se der lucro, fica para a associação; o prejuízo é dividido entre os associados”, informou Vieira.
A venda é feita, principalmente, por agentes, com indicações de clientes atuais e familiares como fonte de captação. As comissões variam entre 7% e 30%. A pesquisa também monitorou o perfil dos clientes: 30% têm entre 18 e 45 anos, e 35% possui renda abaixo de R$ 7 mil. “Essas empresas já estão, inclusive, atuando em outros segmentos, como os de Vida e Saúde”, revelou o consultor.
O CEO da HDI, Murilo Riedel, falou sobre a posição das seguradoras diante da situação. Ele abordou a origem do problema e disse que houve um ambiente que facilitou o surgimento do mercado marginal. “Acho que o assunto deve ser tratado como estelionato. Falamos de uma estrutura muito simples de pirâmide, que encontrou no nosso cenário de seguros um ambiente facilitador”, ressaltou.
União e ações sinérgicas
Luiz Gutiérrez, CEO da Mapfre e vice-presidente da FenSeg, disse que a situação é bastante complicada e precisa ser tratada com seriedade e inteligência. O executivo afirmou que 4,5 milhões de cidadãos estão sem proteção e não têm consciência disso. “Não estamos contra ninguém, mas eles têm que seguir as mesmas normas dos seguradores e proteger, de fato, os consumidores. Devemos estar juntos e transmitir o problema a esses brasileiros que não estão protegidos”, afirmou.
O presidente da Porto Seguro, Roberto Santos, que também é presidente do Sindseg-RJ/ES, apresentou o resultado de pesquisa realizada em agosto de 2019, no programa “Pátio Legal”, que acontece no estado do Rio de Janeiro. Segundo o levantamento, dos 1.896 veículos recuperados, 37% são de proteção veicular e 23% são de seguradoras. “É assustador”, reagiu.
O deputado federal Lucas Vergilio também participou do debate e agradeceu a adesão das seguradoras na busca pela solução da questão. “Até que enfim as seguradoras se importaram com esse problema. Sempre achei que o corretor estava sozinho nessa luta”, declarou Vergilio, lembrando que, no congresso de Foz do Iguaçu, ele já havia conclamado o setor para combater as APVs.
Ao final, Robert Bittar pregou a união de todos os segmentos do setor. “Saímos deste congresso com um compromisso público de alinhamento para combater o mercado marginal. Agora é unir corretores, seguradores, entidades, enfim, toda a indústria brasileira de seguros, para empreendermos ações efetivas e sinérgicas e mostrar à sociedade e às autoridades os riscos dessa atividade”, finalizou.